segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Luminescência percepcionada

Ontem ofereceram-me um floco de neve. Há anos que não me cruzava com aquele embrulho vermelho e sorri. O rebuçado, per si, nunca me interessou grandemente, mas o papel que o envolvia sempre representou todo um mundo novo. Recriado a vermelho.
Outros papéis existiram assim na minha vida, uns rosas, outros amarelos, verdes e azuis... Laranjas só me lembro de um.
Ocorreu-me que gostamos de criar. Enquanto criança criava todo um mundo novo a partir daquele embrulho vermelho. Podia viver em Marte ou nas tribos índias do Faroeste. Quando crescemos, não deixa de ser curioso que esbatemos as diferenças entre a realidade e a ficção, e aquilo que observamos através destes auxiliares de visão torna-se uma verdade inequívoca.
É certo que as cores dos papéis se transformaram, em vez de transparências de arco-íris abrimos a panóplia de escolhas a emoções e reacções. E toda a nossa existência passa a ser criada através da roda de Plutchik.
Bradam-se as fúrias aos céus, em como somos os únicos seres no planeta (bolas, se a tempestade estiver atingido o seu auge, do Universo!) a quem qualquer acontecimento inesperado e não desejado acontece! 
Acaricia-se a consciência da inacção individual, extravasando a frustração do seu reconhecimento (mas não integração) na inacção percepcionada do outro. 
Responsabiliza-se outro (ser ou objecto) pela nossa felicidade. É extraordinário quanta felicidade se projecta no «quando estiver com ou possuir este/aquilo serei feliz».
A minha perspectiva de observação preferida concentra-se, ainda, na presunção do conhecimento da resposta. Entra-se no modo ficcional e somos tão extraordinários na criação dos enredos vivenciais. Não disse, não vou, não faço, estou triste, frustrado, irado, decepcionado porque a reacção do outro não corresponde aquilo que ficcionámos internamente. Tinha que ter dito, feito, olhado, estremecido, reagido, esboçado outra coisa qualquer.
Ocorre-me que neste vivenciar das experiências coloridas do papel, não me recordo do sabor do rebuçado...

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