quarta-feira, 29 de abril de 2015

Platonismo

Barbara Kruger
Estou apaixonado novamente! Por vezes acho que a minha libido é como folhas esvoaçantes numa tarde ventosa de Outono: está sempre no ar! Hoje, ainda não são 11h da manhã, e já me apaixonei cinco vezes; meia dezena de olhares, e sorrisos, conquistaram-me e derreteram-me qual manteiga debaixo de um sol escaldante! São paixões efémeras, rápidas, e fugazes, que fazem a alma sorrir interiormente, e pensar em como a Vida, e as pessoas, podem ser bonitas! Os breves lampejos de paixão são agradáveis, descomprometidos, e fazem-me sentir feliz, já as grandes paixões, que se arrastam pesadamente no tempo, são um aborrecimento, e cansam muito. Estou apaixonado de novo, mas não são apenas estilhaços de amor, aleatórios, de estranhos que se cruzam comigo no decorrer do dia, é mais uma daqueles amores platónicos que perduram…. que ficam a moer como uma pedra no sapato, da qual nunca nos conseguimos libertar! Aquelas pessoas que nos entram na vida para ficarem muito tempo, que se alojam naquela zona libidinosa do nosso cérebro, que nos despertam um tesão incontrolável, e uma exaltação das emoções mais profundas, são uma chatice incomensurável, que proporcionam uma trabalheira extenuante para lidar com elas: pensar nelas, sonhar com elas, criar expectativas… uma labuta imparável, para acabar por concluir que afinal tudo não passa de uma ilusão! Acho que estou a desenvolver uma nova paixão… e não estou a gostar! 

Hood


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segunda-feira, 27 de abril de 2015

Lost

Não tenho memória de aprendizagens simples na minha vida. Enquanto o conhecimento empírico me é simples e rápido, as aprendizagens, as da vida, da relação comigo enquanto ser humano e dito racional, são genericamente violentas, dolorosas, longas. 
Perduram-me em banho-maria as ausências de sentido que as certezas dos outros me imprimem à pele, sem que lhes descortine, de imediato, os elementos alérgicos.
Quando presto atenção, nas raras vezes em isso acontece, percebo o diálogo existente entre mim e o quântico que integro e ao qual pertenço. Na maioria das vezes essa atenção necessita de me ser imposta. Um pouco como aos gauleses é necessário que o céu me caia em cima.
E isso gera frustação. Um diálogo permanente entre o «presta atenção miúda» e a atenção que raramente se gera. E quanto maior o esforço pelo foco, mais ele me escapa.
Um dia, enredada nesse sofrimento desatencional (a palavra é provavelmente inventada, apetece-me!) alguém me disse sorrindo «parabéns, estás viva». Respirei. Mas este associar como sinónimos a desatenção e a vida causa-me algum mal-estar aos sentidos.
Hoje foi um novo dia desatento. Estou viva. E contínuo a não gostar da desorientação que isso me causa.

sábado, 25 de abril de 2015

...sobre a vida e a felicidade... e o cansaço de tudo isto!


Cindy Sherman
A vida é uma inevitabilidade que nos acontece por acaso, é um acidente, não pedimos para viver, mas quando esta nos acontece, torna-se urgente aprender a passar por ela; viver com o mundo e connosco próprios, e isto, por vezes, é um peso enorme! Não querendo subestimar as alegrias do sentir, do respirar, do estar, do motivo de viver, conviver, de tudo o que pode ser razão de júbilo em estar vivo, a vida pode cansar, causar fadiga de lutar por tudo isto. Na fase do esperar, do lutar, o resultado pode estar mesmo ali à mão, mas a espera estende-se numa linha infinita, aparentemente inalcançável, de ansiedade… estou farto! As alegrias, quando forçadas, não sentidas, tornam-se exasperantes! É fastidioso e exacerbante ser alegre à força, viver as alegrias dos outros, os ideais dos outros, aquilo que é comum, e esquecer-nos de nós! Tudo acaba por ser estereotipado, e se não vivemos dentro desse estereótipo, estamos mal…. se definem que a luz, as flores, ou o brilho, são sinónimos de alegria, e eu, se me sinto feliz com a noite, com o negro, ou com as árvores despidas, não posso ser feliz, nem alegre, não existo no mundo dos outros! Aprendi com isto a estar só…. estar no meu mundo, isolado, sentir as minhas alegrias, independentemente da opinião dos outros. Aprendi a estar comigo, ser feliz comigo, e saber que não há nada de mal em gostar da noite, da poesia imagética de flores mortas, e romances impossíveis, de gin à meia noite ao som de Marc Almond, da imagem artística corrosiva da decadência, dos poetas malditos, de Tarkovsky, de Baudelaire na voz da Diamanda Galás, ou da voz dolente do Leonard Cohen a adornar o espírito e a alma. Aprendi que quanto mais genuínos somos com nós próprios, mais felizes nós somos!






"Comes the night

comes the cold

comes the face

of the one I love



I see the birds

upon the rock

the crows that knew

your name and came on time



LIGHTS OUT

LIGHTS OUT

LIGHTS OUT

LIGHTS OUT



I see your eyes

we held your hands

What did you think

about until the angels came



Birds that love you know

what you know now

Could I have stopped them

from holding you down



LIGHTS OUT

LIGHTS OUT

LIGHTS OUT

LIGHTS OUT



Friends and lovers

the night draws near

your eyes don't fool her

who knows your fear



Birds of death

I've seen you all before

Birds of love cry

"This is yours no more!"



LIGHTS OUT

LIGHTS OUT

LIGHTS O UT

LIGHTS OUT



What is the answer to the waste of 10,000 days?

Your soul is now my destination

until the blackbirds come."


Diamanda Galás



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segunda-feira, 20 de abril de 2015

Pode um beijo valer um par de sapatos?

Toda a minha vida ouvi que os melhores presentes são aqueles que não se podem comprar. Não existem nas lojas, não têm o brilho polido pelos catálogos, não surgem embrulhados em papel colorido, mais ou menos artístico.
Amar é o melhor presente. Mas chato. Amar traz acoplado a si o medo. Da dor, da perda, da traição, da morte. É um presente com duas faces. É tão mais gratificante, no imediato, desembrulhar um par de sapatos novos. O número é o certo, o material é confortável, a cor e textura o que se pretende e o ajuste é perfeito!
Claro que o sapato sofre o desgaste da erosão natural. Sentindo-se a necessidade da troca a médio prazo. A cor desbotou pela ação do sol, o brilho perdeu-se entre o escape de um veículo e o cuidado esmorecido que o passar do tempo lhe vai dedicando, o design à muito que passou de moda e novos modelos surgem nas montras para contrastar com esse amor outonal que o sapato em nós desperta. Como a folha é necessário deixá-lo ir. A vantagem é que as ocasiões para renovar os eflúvios apaixonantes que o sapato em nós inicialmente despertou se repetem a espaços fixos e móveis. E novos embrulhos trazem novas palpitações. 
Torna-se um ciclo vicioso. Pode um beijo valer um par de sapatos?
Aos 20 anos para mim não valia. Enquanto o par de sapatos abria um leque de possibilidades, o beijo encerrava a promessa de limites. E assim ficava-me a polaridade e a argumentação interna entre a consciência de que o amor é maior e superior e o prazer hedonista do desembrulho e da surpresa que este encerra.
A vantagem de ter presente um assunto, mesmo em conflito interno, é que as perspectivas vão brotando. Os sapatos foram sendo cada vez menos importantes, sobretudo quando me apercebi que muitas vezes tinha de fazer uma escolha não explícita entre eles e a presença de quem os oferecia. E se o amor vago e retórico tem dificuldade em impor-se perante um embrulho brilhante, este perde todo o seu brilho perante um espaço vazio de ausência.
À ausência foram-se somando outras perspectivas, amiúde impostas pela distância. Não há prazer que se compare aos braços dos que amamos, aos sorrisos que partilhamos em torno das histórias que já vivemos ou das memórias que estamos a construir. 
A consciência evolui e subitamente apercebo-me que há mais para além dessa partilha. O outro. E que os melhores presentes que tenho recebido nestes últimos meses se embrulham em palavras que têm agora outra dimensão. A minha é, neste momento, confiança. 
Um beijo pode não valer um par de sapatos, mas ser depositário da confiança de alguém vale. 

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Da solidão... e do amor!

Um caminhante solitário é frequentemente uma figura enigmática, que esconde todo um universo de vivências, de dores e alegrias, camufladas num olhar ausente, no silêncio do caminhar isolado. Qual John Wayne saído de um filme do John Ford, misógino, de cigarro na boca, botas empoeiradas, de porte homoerótico, ou um qualquer samurai do Akira Kurosawa, de honra incorruptível, destemido, sem medo, porém reservado (insulado…), o homem tímido esconde um semblante fascinante ausente, e simultaneamente Belo… voltei a me apaixonar… a solidão dos outros atrai-me…!
Agarrei-me a uma adoração platónica, num ritual quase pop, de uma imagem que me persegue, qual estrela de cinema emoldurada na parede, causa de suspiros, ritmos cardíacos acelerados, e lágrimas derramadas. Porquê?! Empatia com a solidão do outro? Atração pelo inalcançável? O inatingível torna-se cobiçável, o desejo comanda a razão, e o sonho sobrepõe-se à realidade!





Hood







"I'm So Lonesome I Could Cry"

Hear that lonesome whippoorwill
He sounds too blue to fly
The midnight train is whining low
I'm so lonesome I could cry

I've never seen a night so long
When time goes crawling by
The moon just went behind the clouds
To hide its face and cry

Did you ever see a robin weep
When leaves begin to die?
Like me, he's lost the will to live
I'm so lonesome I could cry

The silence of a falling star
Lights up a purple sky
And as I wonder where you are
I'm so lonesome I could cry


Hank Williams




*posted by Hood

terça-feira, 14 de abril de 2015

Das expectativas

Amar é, frequentemente, um aborrecimento.
Inflamam-se-nos os sentidos e a libido da necessidade da presença do outro, do toque do outro, sorriso, olhar, cheiro, gestos, manias, sotaque, pronúncia, alterações do ar circundante de quando o outro está presente. E ficamos retidos na memória do mesmo. 
A partir daqui espera-se. Espera-se que o outro cumpra a parte dele. Que responda, manifeste o peso que sente da nossa ausência, o profundo amor que lhe vai na alma e nos sentidos -  retribuído ao nosso, nessa necessidade de sorriso, cheiro, gestos, manias, sotaque, pronúncias e alterações do ar circundante.
E criam-se expectativas. Da espera. Do ideal. Do que será. Do que virá. Da resposta. Do olhar. Do gesto. Do beijo. Aquele que sela, subitamente, a união. Mais do beijo que do sexo, curiosamente...
Amiúde o passo seguinte é a queda no abismo. O outro não respondeu, não estava, não sorriu, não cheirava, não chorou, não nada. - Raios para ele! Já não quero saber! Era o que me faltava, ficar aqui a sofrer por quem não merece! Parto sem dizer adeus.
E o outro, ignorante desta criação dramática, continua no seu quotidiano, impávido e sereno perante a tempestade de emoções de que foi inspirador, sem ter necessariamente consciência disso. Outras vezes, preso no tumulto das suas ventanias, sem reparar tampouco na reciprocidade dos ventos. 
É neste momento que somos deuses. Fecundamos a imaginação empolada dos sentidos de cenários oníricos e geramos a mágoa, tristeza e ira de os ver desfeitos. 
PIM!
Amar é um aborrecimento.
O estranho desta história é que se amou antes. Antes do onírico e da necessidade de resposta. Amou-se o sorriso, o olhar, o cheiro, os gestos, as manias, o sotaque, a pronúncia, as alterações do ar circundante. Mas perante as expectativas criadas, este antes tolhe-se e morre. O sorriso é afinal um esgar, o olhar indiferente, o cheiro artificial, os gestos programados, as manias intoleráveis, o sotaque ridículo, a pronúncia irritante, as alterações do ar uma ilusão ingénua. 
Ficamos, como o rei, nús perante a multidão. 
E amar, naquele momento, não é só aborrecido. É também ridículo.


segunda-feira, 13 de abril de 2015

«A sinceridade é uma qualidade dispensável num amante*»

A Ana orientou os meus devaneios mentais para a verborreia dos amantes que despi ao acaso. A necessidade imperativa de se sentirem aceites. Uma polarização, de facto. Oscilava o discurso entre a superioridade do macho independente, cultivada pela necessidade social de serem livres, de amarem livremente, ou foderem livremente (a diferença era, amiúde, ténue) e a necessidade de se justificarem, de os aceitar na sua liberdade, nos seus caprichos, na sua violência direccionada.
A mim cansam-me os discursos. Os diálogos que são monólogos, a conversa que precisam de ter, não comigo, mas ao espelho. 
A um amante exijo pele e empenho. Espírito, talvez. As confidências pertencem aos confessionários, à partilha das alcovas, ao esforço de conjugar o sexo com valores acrescidos. 


* O título deste post foi subtraído a este outro: http://ana-de-amsterdam.blogspot.pt/2015/04/licao-de-anatomia.html

domingo, 12 de abril de 2015

Gozo VI

GOZO VI



São de bronze
os palácios do teu sangue

de cristal absorto
encimesmado

São de esperma
os rubis que tens no corpo
a crescerem-te no ventre
ao acaso

São de vento – são de vidro
são de vinho
os liquidos silencios dos teus olhos

as rutilas esmeraldas que
sózinhas
ferem de verde aquilo que tu escolhes

São cintilantes grutas
que germinam
na obscura teia dos teus lábios

o hálito das mãos
a língua – as veias

São de cupulas crisálidas
são de areia

São de brandas catedrais
que desnorteiam

(São de cupulas crisálidas
são de areia)

na minha vulva
o gosto dos teus espasmos



Maria Tereza Horta









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Pornografia

"A pornografia é o erotismo dos outros."
André Breton



O sexo Imagens intempestivas e eróticas devoram-me a mente em cenários de luxúria  alucinantes! O ranger da carne em penetrações frenéticas, num frenesim báquico; o odor excitante do teu membro pungente, e o calor da tua pele roçando na minha, em devaneios contínuos, numa simbiose perfeita, enaltecem-me o espírito, elevando-me em espirais infinitas de prazer! Esvaio-me em gemidos agudos, num orgasmo vulcânico e magnificente quero-te possui-me qual anjo alado possante, nú, de pénis em riste, esvoaçando entre lençóis de seda, em ejaculações inebriantes!


Hood  






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about love....

"I always get interested in girls who aren't right for me."

Jean-Paul Belmondo"À bout de souffle", Jean-Luc Godard, 1960.



Klaus Kinski, "Nosferatu: Phantom der Nacht", Werner Herzog, 1979.




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sábado, 11 de abril de 2015

Mar...





Maki Miyashita


Depois do trabalho, fui novamente ao mar.... refresquei  o corpo, e apaziguei a alma... o cheiro dos canaviais, embalado pela maresia - plena aliança de odores das canas soltas ao vento, com o ar salgado que emanava do basalto da praia -, envolveu-me em memórias mil de Verões passados! Senti a pele a queimar pelo sol, amedrontado ainda, como que à espera da força do Verão vindouro para mostrar a sua força, enquanto sonhava com viagens por fazer, a mirar o horizonte infinito. 









Mellow is the yellow sun
Waving sunbeams in the air
Weaving golden spells that run
Magic fingers through my hair



Green the sea that unfolds waves
Salty carpets flung on land
Foamy fingers seek out caves
Where lovers lie upon the sand



Red the lips from which I sup
Rubies from the fleshy bowl
Fingers reach inside to cup
My heart and knead my love to soul




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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Belle de jour







, "Belle de jour", 1967.



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Delírios

Tee Corinne - "Jeanne"
É noite... no ar existe uma inquietude flutuante, faminta, qual libido insaciável, porém ansiosa, e amotinada, que domina a mente enrubescida pelo desejo contido de uma vagina em flor. O aroma estonteante, o sabor a sexo de hormonas indomáveis, enaltecem o cio impulsionador de poesias e romances efusivos, e alucinantes… no calor do quarto, o calcorrear de dedos lascivos percorrem a pele veludilho, lentamente, até o desabrochar de um clitóris em flor, fonte de segredos primaveris, de delírios incontáveis em orgasmos múltiplos. "Amo-te" ecoa em murmúrios quase imperceptíveis, em curvas ascendentes, como o sussurrar tímido de um Bis-Bis airoso numa manhã de Páscoa.


Hood

quinta-feira, 9 de abril de 2015

sobre desejos...!







"... Sonhemos junto, Amor, com algum rude amante 
grande como o Universo,no corpo manchas sombrias. 
Ele nos enrabará nus em tristes hospedarias 
entre suas coxas de ouro, sobre seu ventre fumegante. 

Um bofe deslumbrante, num arcanjo talhado 
tesudo sobre um buquê de jasmins e rosas
 tremulamente deposto por tuas mãos luminosas
 sobre seu flanco augusto, por teu beijo perturbado. 

Tristeza em minha boca! Amargor inchando,
 Inchando este pobre coração! Os amores perfumados 
Adeus, vão partir! Adeus, meus colhões amados! 
O’ pica em brasa que corta meu suspiro brando!..."



in "O Condenado à Morte" (fragmento), Jean Genet





*posted by Hood

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Karen Dalton



Uma voz que soa a Billie Holiday, um banjo, alternado com um violão de 12 cordas, e um lirismo profundo, dorido, e confessional, descrevem o mundo da Karen Dalton, diva marginal da música folk americana. Existe algo simultâneamente apaixonante, e assustador, na sua existência, uma genialidade apagada precocemente pelo vício intrínseco  ao ritmo alucinante da vida. Amores, e desamores, brotavam de seus lábios em melodias melancólicas, como que a adornar o coração, e a sossegar a mente de sonhos e desejos; o gotejar agridoce de palavras circundantes em letras de canções que ecoam, soltas, na memória da sua história trágica, que ainda assim, iluminou o mundo com a sua arte, reflexo de uma alma grandiosa. God bless her!



Hood







I love you baby
Ain't gonna lie
Without you darling
I can't be satisfied
If things are going wrong for you
You know it hurts me too

Run here baby
Put your hands on mine
I've got something to tell you, darling
I wanna change your mind
If things are going wrong for you
You know it hurts me too
Hurts me too

I love you baby
Ain't gonna lie
Without you darling
I can't be satisfied
If things are going wrong for you
You know it hurts me too
You know it hurts me too







*posted by Hood

You're out of order!

Sentou-se. Respirou fundo. Novamente. E outra vez. Até que regulou a ordem de pensamentos que lhe surgiam em espirais fraccionadas. 
Mordeu a maçã. Permitiu que o ácido verde lhe provocasse arrepios na língua. Sentiu a pele reagir. Fechou os olhos. Se reagisse podia rasgar o mundo com a fúria dos dentes.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Uma macieira que dá laranjas

Rui Manuel Amaral criava assim um contexto cenográfico à literatura. 
Cinco palavras que me ficaram impressas na memória pelas raízes de significados que criaram. Não é tudo, assim, na vida? 
Germinamos sementes de maçã, esperamos colher maçãs. Mas a audácia criativa da existência tende a congeminar-lhes outras formas, quiça laranjas, porventura morangos. Às vezes, no corropio dos dias, quando o travo fica menos sensível às expectativas, desatencionamos o palato e apreciamos o gosto do novo. A surpresa dissolve-se agradavelmente nas papilas, imprime-lhes o gosto dos sonhos não ousados. Dos que ficam impressos de alcova, amarrotados pela agitação do sono. 
Gosto-lhes do desembrulho matinal, quando lhes agradeço a criação e os remeto às memórias que não guardo.

Afinal era pêssego.

AMOR MUDO

Helena Almeida                                          

                                 

    







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domingo, 5 de abril de 2015

Electrelane - "The Valleys"




I heard it from the valleys

I heard it ringing in the mountains

Ah ah ah ah ah ah ah


I heard it from the valleys
I heard him singing in the mountains
Ah ah ah ah ah ah ah

(The rest of the lyrics are taken from the poem "A Letter Home" by Siegfried Sassoon, written in May 1916.)

Robert, when I drowse to-night
Skirting lawns of sleep to chase
Shifting dreams in mazy light
Somewhere then I'll see your face
Turning back to bid me follow
Where I wag my arms and hollow
Over hedges hasting after
Crooked smile and baffling laughter

We know such dreams are true

He's come back, all mirth and glory
-Running tireless, floating, leaping
-Down your web-hung woods and valleys
-Where the glowworm stars are peeping
Like the prince in a fairy story
-Till I find you, quiet as stone
-On a hill-top all alone
-Staring outward, gravely pondering
-Jumbled leagues of hillock-wandering
Winter called him far away
-You and I have walked together
-In the starving winter weather
-We've been glad because we knew
-Time's too short and friends are few
Blossoms bring him home with May
-We've been sad because we missed
-One whose yellow head was kissed
-By the gods, who thought about him
-Till they couldn't do without him

Now he's here again
Standing in a wood that swings
To the madrigal he sings
And I'm sure, as here I stand,
That he shines through every land
That he sings in every place
Where we're thinking of his face



While we know such dreams are true











*posted by Hood